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Artigo: A violência invisível

Maria Helena Machado, pesquisadora do departamento de Administração e Planejamento em Saúde da ENSP e coordenadora do estudo Perfil da Enfermagem no Brasil, assinou, na companhia do presidente do Conselho Federal de Enfermagem, Manoel Carlos Neri da Silva, artigo sobre a violência a que os profissionais dessa classe são submetidos durante a jornada de trabalho. O texto utiliza o episódio que bandidos fortemente armados adentram um hospital no Rio de Janeiro e resgataram o colega-bandido – fato que chocou toda a sociedade – para contrastar com a violência “invisível, institucional a que mais de 3.500.000 de trabalhadores de saúde, que prestam assistência à população brasileira, estão submetidos cotidianamente”. O Perfil da Enfermagem no Brasil aponta condições de subsalários e subjornadas de trabalho – que acarretam situação de “subemprego”. Confira o artigo:

Estamos acostumados a associar, quase sempre, violência a atos que atentam contra nossa integridade física. Neste sentido, o caso ocorrido no Hospital Souza Aguiar é emblemático: bandidos fortemente armados adentram abruptamente o hospital, resgatam o colega-bandido-paciente. Quem se contrapor à isso, estará sujeito à violência extrema, com risco de perda da vida. É exatamente isso que aconteceu: trabalhadores da saúde perdendo vidas em nome da bandidagem.

Contudo, não é dessa violência que queremos falar. E sim da violência invisível, institucional a que mais de 3.500.000 de trabalhadores de saúde que prestam assistência a população brasileira estão submetidos, cotidianamente.

A recente pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil, realizada pela Fiocruz, por iniciativa do Conselho Federal de Enfermagem – COFEN, apresenta dados sobre esse contingente de mais de 1,8 milhão que nos leva a afirmar que há uma violência instituída que produz efeitos deletérios afetando não só a saúde física desses profissionais como também sua saúde mental e emocional:

Apenas 29% se sentem protegidos em seu ambiente de trabalho; metade de (53%) são maltratados, chegando à violência física, pela população usuária; 20%, ou seja, 360 mil trabalhadores sofreram violência (física /psicológica) nos últimos 12 meses; 11% foram acometidos de acidentes de trabalho nestes últimos meses; 56%, ou seja, mais da metade do contingente adoeceram, recentemente, e tiveram que procurar atendimento médico; 77% são, declaradamente, sedentários; 66% se sentem com desgaste profissional.

Apesar de sua essencialidade no Sistema de Saúde, estes profissionais não recebem a devida atenção e respeito nas instituições de saúde, 60% afirmam que não são atendidos na própria instituição que trabalham, quando necessitam de atendimento médico. Da mesma forma, independente da modalidade de sua jornada de trabalho (noturno ou diurno), mais da metade (55%) denunciam que não dispõe de qualquer infraestrutura de descanso durante sua extensa jornada de trabalho.

A pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil, mostra ainda que, apesar de jornadas longas, tem salários extremamente baixos, configurando em clara condição de subsalários. É possível afirmar que essa violência instituída no seu cotidiano destes é uma violência institucionalizada, que se torna nociva para a saúde destes trabalhadores responsáveis pela assistência direta à população.

Maria Helena Machado (Socióloga, pesquisadora titular da ENSP-FIOCRUZ, coordenadora geral da pesquisa: Perfil da Enfermagem no Brasil (FIOCRUZ-COFEN, 2013). machado@ensp.fiocruz.br)

Manoel Carlos Neri da Silva (Enfermeiro, presidente do Conselho Federal de Enfermagem. nericoren@gmail.com)



CNTS

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